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SEXUALIDADE.
INTRODUÇÃO
Como definir o que é sexualidade? Como distinguir genitalidade e
afetividade?
Dentro da abrangência da sexualidade temos que saber trabalhar as opções
sexuais. E também assuntos delicados, como pílulas anticonceptivas e
preservativos – camisinha. Como fazer
com que o aluno saiba distinguir uma boa amizade de relacionamento amoroso. A
abordagem das Doenças Sexualmente Transmitidas (DST’s). Distinguir o que é namoro
e o que é ficar? Distinção entre paixão e amor, virgindade e outros assuntos
delicados.
Esses e temas correlacionados serão abordados nesse caderno com muita
propriedade pelas coerentes argumentações dos professores Edi Wilson e Valtinei
Trombini, ambos lecionam filosofia na rede pública de ensino do estado de São
Paulo.
ETAPA I – SEXUALIDADE
ETAPA I – SEXUALIDADE
Recursos e orientação didática para aplicação
ATIVIDADE 1 – Ética e Sexualidade *
No principio era
a teologia, depois a filosofia fonte de todo conhecimento. Depois vieram as
ciências, que cresceram e se multiplicaram, dando origem a inúmeros campos de
estudo e de aplicação. Com o passar do tempo, as inteligentes ciências deram as
costas para sua mãe, a sabia filosofia, e, associando-se à técnica,
esqueceram-se do porquê e do para que fim, ficando com o como, quando e onde. O
mundo nunca teve tanto cientista para tão pouco filósofo.
Adiante, esse
autor define a ética como ciência normativa, descritiva ou especulativa (4).
A ética, na sua
função deontológica, estuda os principias, fundamentos e sistemas morais,
buscando oferecer um tratado de deveres ao ser humano que garanta o seu bem em
nível individual e social. A ética, porém, não é pura abstração dissociada de
uma realidade existencial. Ela existe e tem significado, na medida em que se
fundamenta na estrutura existencial da pessoa humana. E tal fundamentação
requer o estudo dos "esquemas de valoração dentro da sociedade e seus
sistemas de legitimação" (5)
A ética,
portanto, na sua dimensão filosófica, oferece a reflexão sobre o significado e
finalidade da existência humana, buscando definir a moralidade. A justificação
dessa moralidade ou eticidade, porém, encontra-se no diálogo continuo e em
confrontação permanente com as contribuições dos diferentes conhecimentos
científicos a respeito do ser humano (e).
A dimensão
sexual humana constitui hoje o espaço existencial em que o anteriormente
descrito mais se evidencia. Se bem vejamos: A sexualidade humana foi resgatada
do ocultamento e da patologia, do profano ou do sagrado, pela ciência, a partir
do inicio deste século. O impacto que tal acontecimento provocou, no entanto,
não foi de todo assimilado pela consciência coletiva. O simples fato de
comprovar seu aspecto natural, sua função integradora da pessoa humana e a
dismistificação de preconceitos e tabus confunde teóricos, clínicos,
educadores, de um modo particular, e a sociedade como um todo.
A filosofia, a
ciência e a técnica têm por finalidade promover o bem-estar do homem, e assim
sendo, todo e qualquer avanço nestas áreas produz intensos efeitos sobre a vida
humana. No momento em que a sexualidade e vida se confundem, embora sejam
realidades distintas, a ação do desenvolvimento do conhecimento afeta muito
mais este aspecto do que outros da dinâmica vital existencial. Para se avaliar
a natureza complexa da sexualidade, assim como a sua magnitude no âmbito
humano, faz-se necessário:
- Apreender que
a sexualidade encerra o mistério da vida humana, pois, a partir dela, surge a
vida nos seus sentidos estrito e pleno, e em função dela a vida continua após a
morte.
- Compreender
que toda pessoa humana é sexuada e que esta característica integra todas as
dimensões humanas, já sejam biológica, psicológica ou social, pois, como define
a OMS (9), "saúde sexual é a integração dos elementos somáticos,
emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual por meios que sejam
positivamente enriquecedores e potenciem a personalidade, a comunicação e o
amor".
- Finalmente,
clarificar que a realização humana no âmbito pessoal social e transcendental
passa pelo modo próprio que cada pessoa tem de viver o fato de ser sexuado, ou
seja, pela sua sexualidade. E isto porque são funções da sexualidade a
reprodução, o prazer e a comunicação, sendo esta a mais importante de todas,
porque é ela justamente quem potência o amor, única força motriz verdadeira
para a realização da reprodução desejada e a obtenção do prazer pleno.
A saída da
sexualidade a luz que o desenvolvimento científico, técnico e social promoveu e
continua promovendo, longe de esclarecer dúvidas, oferecer respostas certas e
padrões de conduta desejáveis, ao contrário, destruiu a base axiológica
biológica da sexualidade (reducionismo reprodutivo), provocando a exacerbação
do hedonismo licencioso biológico (reducionismo do prazer). Como resultado, a
confusão e a perplexidade se instalaram. A sociedade ocidental, aberta e
pluralista em seus sistemas de valores, reagiu, reforçando antigos tabus e
preconceitos, assim como criando novos. Às vezes negando a sexualidade,
desacreditando-a, outras vezes, falando demais sobre ela e em nome dela,
impedindo ou desvirtuando a expressão natural e espontânea da sua língua,
refletindo a tensão existente entre as forças sociais apostas da manutenção e
transformação.
Cientistas e
educadores com base nos conhecimentos sexológicos tentam limpar o campo da
sexualidade, os aproveitadores, com seus objetivos mercantilistas prostituídos,
sujam-na. Os indivíduos confundidos entre os novos conhecimentos e os velhos
afetos, reforçados por falsas e claras utilizações, experimentam o conflito,
vivenciam o medo ou se entregam à inconseqüência das condutas irresponsáveis.
Hoje, assistimos
à "desordem amorosa"(10). Buscam-se orientações, receitas. É o
dobrar-se da sociedade à sabedoria da ética, tão negada, agredida e
desvalorizada. Atitudes até certo ponto mostram-se ineficazes e estéreis. Por
um lado, tem-se o absolutismo autoritário, por outro, o relativismo ortodoxo.
Nas negações implícitas de ambos, evidencia-se a radicalização extremada, que
impede a vigência de uma valoração universal legitimada na dimensão
sócio-cultural especifica, cuja ultima instancia recai no âmbito individual. À
pessoa cabe a escolha final entre o tradicionalismo conservador, expresso no
"dever ser", universal, fundado em tabus, preconceitos e falsamente
legitimado em abstrações, ou permissividade modernosa, normatizada com base no
contraponto do "dever ser", que pretende ter legitimidade, baseada em
falsos princípios revolucionários. Da norma do "nada pode", passasse à
norma do "tudo pode".
A filosofia
personalista oferece à ética uma reflexão sobre o que é a pessoa humana:
"Uma totalidade viva com um passado, um presente e um futuro"(11),
cuja autenticidade se expressa na realização do projeto de humanização, que se
sintetiza na valorização intrínseca da vida em si mesma. Ou seja, ser pessoa é
a vocação natural do ser humano, o que por si só constitui-se num valor
supremo, central e eixo básico de critério avaliativo para todos os demais
valores.
Temos, assim e
,portanto, a pessoa como valor, o qual dá origem a um sistema de valores que é
por aquele legitimado, e do qual, por sua vez, originasse as normas morais. Sua
legitimidade passa a existir quando confrontadas com o conhecimento científico
atualizado, a qual se completa em nível prático-social na medida em que houver
a assimilação sócio-cultural e a introdução coletiva consciente e responsável
destas e dos valores e principias que as fundamentam.
A sexualidade
humana é um valor de vida, legitima-se, portanto, na dimensão humana.
Ser pessoa é o
valor central humano cujo significado é vida e cuja principal forma de
expressão é a sexualidade.
Conclui-se aqui
que o que promove a vida promove a pessoa humana, assim como sua expressão
maior de vida: a sexualidade.
Nesse âmbito, a
cada valor corresponde não outro valor, mas sim antivalores, ou valores de vida
em contraposição e antivalores que potenciam a morte.
A sexualidade
pode ser saudável, prazerosa, cultivada no amor e potenciadora da vida. A
maioria das pessoas, ainda apegadas a falsos valores ou encantadas pelo canto
da sereia do prazer consumiste, ainda não descobriu essa possibilidade.
Assistimos
diariamente à exposição clara e objetiva ou sutil e enganadora das questões
relacionadas com a vivência da sexualidade. Tal exposição, longe de nos
proporcionar uma resposta satisfatória às nossas indagações e conflitos,
aumenta-os e torna-os mais complexos e diversificados. O que fica evidente é
que nenhum tema na historia da humanidade foi, em qualquer tempo, mais
trabalhado, através dos meios de comunicação de massa, desde diferentes tipos
de publicação a produções artísticas variadas.
Os temas
centrais do debate se dividem em dois amplos contextos: (a) reprodução
(fecundação, anticoncepção, aborto); (b) prazer (masturbação, virgindade,
relações pré-matrimoniais, homossexualidade, parafilias, erotismo,
prostituição, pornografia). A abordagem, quase sempre e ainda, caracteriza-se
pelo patológico, o inusual, o chocante, evidenciando a origem do conflito
dramático, que é, em última instância, o eixo separador da humanidade sexuada,
isto é, o ser homem e o ser mulher(12). E o velho padrão de conduta que
valoriza e enfatiza o negativo, o feio, a dor, a doença, o pecado, o mal, a
morte. Para estabelecer uma ética da sexualidade, tem-se de abandonar esse
velho padrão e abraçar o positivo, o belo, o prazer, a saúde, o bem, a vida.
A ética tem a
função de oferecer principias, fundamentos e sistemas morais. Assim sendo,
apresentam-se, a seguir, os principias que devem orientar a ética da
sexualidade:
1 - O principio
da vida humana como base essencial para a realização do projeto de
personalização.
2 - O principio
da vivência de uma sexualidade saudável, integradora das diferentes dimensões
humanas e potenciadora da personalidade, da comunicação e do amor.
Tendo a vida, a
pessoa e a sexualidade como um amálgama que constitui o critério para a
apreciação e definição de valores que possibilitem a elaboração de um código
ético da sexualidade, cumpre-se o primeiro passo relativo e sintetizado na
definição dos principias.
Como segundo
passo, definem-se os fundamentos que possibilitam a operacionalização dos
principias: amor, saúde, liberdade e responsabilidade. No entanto, cairíamos na
ineficácia da norma absolutista autoritária que pretende a universalidade, ou
no vazio do relativismo ortodoxo, se ficássemos apenas no âmbito da estrutura
existencial da pessoa humana, sem dar a devida importância aos valores
sócio-culturais e aos valores do conhecimento científico.
Toda e qualquer
expressão da sexualidade, portanto, deve ser examinada à luz:
1 -Do principio
da valorização da vida humana.
2 -Da estrutura
existencial da pessoa concreta:
- Valores
potenciadores de vida (amor, saúde, liberdade e responsabilidade).
- Valores
sócio-culturais contextualizados.
3 -Do conhecimento
científico.
A universalidade
dos critérios morais está presente nos valores potenciadores da vida e nos
valores científicos. A relatividade destes está garantida pelo referencial
sócio-cultural e pelo dimensionamento da estrutura existencial da pessoa
concreta. Os principias fundamentam a ética, assim como os valores
potenciadores da vida, a justificativa e legitimidade desta se realizam na
definição dos valores científicos e sócio-culturais.
A diversidade e
complexidade das condutas sociais exigiriam um compêndio, se fosse nosso
objetivo apresentar um código moral que tivesse a abrangência e especificidade
para abordar toda a gama de questionamentos éticos que envolvem a sexualidade
humana. Ao concluir este capitulo, entretanto, desejo sintetizar, de forma
objetiva e clara, a mensagem que norteou a sua elaboração:
1 -O problema da
ética da sexualidade se reporta ao âmbito da falsa ou inadequada valorização da
vida humana e dos valores que a potenciam.
2 -A ciência já
evidenciou o que é a sexualidade, suas funções, peculiaridades, formas de
expressão e seu significado no contexto da pessoa humana. Existe, hoje, em
nível internacional, o reconhecimento de uma ciência que a tem como objeto de
estudo e de um profissional que se dedica ao desenvolvimento teórico e aplicado
desta ciência, ou seja, a sexologia e o sexólogo.
3 -Falta,
portanto, a divulgação do conhecimento científico, a educação conscientizadora
e clarificadora sobre a vida, a pessoa e a sexualidade como valor central
existencial, além da formação especializada de profissionais éticost que possam
promover a legitimar socialmente tais valores.
Em síntese, tudo
o que se exige no trato das questões humanas: conhecimento cientifico,
conscientização clarificadora e responsabilidade.
Bibliografia
1. Como exemplos
pode-se citar: Skinner, B.F., Mas Alla de la Libertad y la Dignidad, Ed.
Fontanella, Barcelona, 1980.
2. Veja-se:
Morin, E. Ciencia con Consciencia, Ed. Anthropos, Barcelona, 1984.
3. Valls, A.L.M.
O Que é Ética, Ed. Brasiliense, S.P., 1986 - Pg. 07.
4. Ibdem.
5. Vidal, M.,
Morat das Atitudes, Ed. Santuário, Aparecida, 1986, vol. 01, Pg.12.
6. Ibdem, Pg.
13.
7. Fullat, O.
& Mélich, J.-C, Los Sistemas Morales, Ed. Vicens-vives, Barcelo-na, 1984.
8. Veja-se:
Bartolomé et allii, Educación y Valores, Ed. Narcea, Madri, 1979.
9.
OMS-Instruccion y Asistencia en Cuestiones de Sexualidad Humana: Formacion de
Profesionales de la Salud, OMS-Genebra, 1975, Informes Tecnicos, n° 572, Pg.
08.
10. Veja-se:
Bruckner, P. 8 Finkielkraut, A., El Nuevo Desorden Amoroso, Ed. Anagrama,
Barcelona, 1979.
11. Cembranos,
C. & Bartolomé, M., Estudiós y Experiencias Sobre Educación en Valores, Ed.
Narcea, Madri, 1981, Pg. 12.
12. Veja-se:
Amezúa E., Sexologia: Cuestion de Fondo y Forma, En Revista de Sexologia,
Instituto de Sexologia, Madri, 1991, Pg. 172
Por Edi Wilson Ruiz professor de filosofia na
Rede Pública Estadual de São Paulo
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